terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O presépio é feio





O presépio em si é feio! Feio mesmo! Uma criança que nasce em um cocho, no meio dos animais, num curral! Pai e mãe excluídos, sem plano de saúde, sem teto, sem agasalho e contando apenas com o bafo dos bichos para se aquecerem. As primeiras visitas: um bando de desconhecidos, os então malvistos pastores.

Aos olhos da fé, contudo, o presépio é lindo. Mas, como a legítima espiritualidade, é comprometedor. Após o parto, a mãe envolve o recém-nascido em faixas. O amor cabe em qualquer lugar. Para a decepção dos caçadores cegos de prosperidade, Jesus menino vem pobre, paupérrimo, humilhado, e morre como tal.

É cena desconcertante para quem acha que os sem-tudo são todos vagabundos, e pronto. “E não havia lugar para eles.” Um incômodo para quem, sazonalmente comovido diante do arranjo moldurado por musgos e festões, um dia acaba descobrindo que ainda há crianças nascendo em comedouros de animais, em estábulos, em corredores frios, na rua e em barracos de lona e bambu. Porque não há lugar para eles.

A sagrada estrebaria é um inconveniente aos emocionados com o menino no cocho enfeitado e, ao mesmo tempo, odiosos a quem luta pelos pequenos de hoje não nascerem assim.

Na beleza da fé, um santo, encorajador e feliz Natal!








terça-feira, 18 de novembro de 2014

Formação para a Pastoral da Comunicação em Barbacena

No dia 15 de novembro, estive em Barbacena-MG, para uma formação com os agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom) de cinco paróquias da cidade. Estudamos alguns aspectos, como espiritualidade, a evolução no pensamento da Igreja em relação à arte de relacionar-se, técnicas de produção de textos, fotos e de uso das redes sociais. Agradeço a acolhida de todos, sobretudo do padre Mauro Lúcio de Carvalho e dos outros membros da Paróquia São Sebastião, e desejo que o trabalho de todos produza muitos frutos, principalmente para a divulgação da boa notícia, que é Jesus Cristo. Veja a notícia publicada no blogue da Paróquia.




 


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Precisa-se de políticos cristãos


Com base em um artigo publicado no jornal “A Fonte” (n. 7, ago./set. 2014), produzido pela minha querida Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Contagem-MG, desenvolvo aqui algumas ideias que, por limitações de espaço do veículo impresso, ficaram resumidas.


Muitos dizem que a Igreja não deve se envolver com política. Mas essa ideia se baseia, muitas vezes, em desconhecimento, comodismo ou mesmo má-fé de quem quer o Evangelho bem longe da vida pública. O Papa Pio XI, em 1927, disse ser a política uma das mais altas expressões da caridade cristã. Certamente o Pontífice se baseou em um dos significados dessa ciência: “a arte de promover o bem de todos”.

Sobretudo a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), o povo de Deus é convocado a se interessar pelo assunto e a assumir responsabilidades nesse campo. O bom político (sim, eles existem!) tem o privilégio de poder levar o bem a muitas pessoas de uma comunidade e até de um país inteiro. Quem vota também tem um papel fundamental: precisa escolher bem, denunciar erros e acompanhar o trabalho dos eleitos.

O Papa Francisco alerta todos os católicos e dá uma “alfinetada”: “A política está suja por quê? Por que os cristãos não se envolveram nela com o espírito do Evangelho?”. E questiona: “É fácil colocar a culpa nos outros, mas o que eu faço?”.

Já passou da hora de homens e mulheres de boa vontade darem um ar verdadeiramente cristão a essa arte. A atividade política, e não só a partidária, faz parte da fé cristã e até aparece no Catecismo da Igreja Católica (cf. 1897-1927, entre outros trechos).

Quem segue a Jesus (este, o político por excelência) deve respeitar e até animar os irmãos que se dispõem a um cargo eletivo, mesmo se este for para uma associação de bairro ou síndico de um prédio. Isso não significa obrigação em votar neles, mas os acolher. Deve receber bem e questionar os candidatos que visitam as comunidades, mesmo que só em tempo de eleição. Precisa assumir, de forma clara, opções em favor da vida, da justiça e da paz, como na atual campanha pela reforma política, apoiada pelos bispos do Brasil.

Além de partidos ou chapas, há espaço de sobra em conselhos de políticas públicas e de direitos, como os de proteção à criança e ao adolescente, de saúde pública, de segurança, de transporte urbano. Para os jovens, também existem os grêmios escolares e equipes de representantes de turma. O importante é não se acomodar.

É tempo de os cristãos assumirem a continuidade da Criação divina. Para os que acham que política e “sacristia” não combinam, outro alerta, desta vez da Carta de São Tiago: “Meus irmãos, se alguém diz ter fé, mas não tem obras, de que adianta isso? Por acaso a fé poderá salvá-lo?” (Tg 2,14).

E você, o que pensa sobre a relação entre Igreja e política? Participa de algum movimento? Partilhe sua opinião.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Festa de muitos dias: conheça mais sobre o tempo do Natal

Antes entrar nos detalhes sobre as festividades natalinas, ou seja, a comemoração do nascimento de Jesus, é bom esclarecer um ponto importante: a principal festa cristã é a Páscoa, celebração da ressurreição de Jesus, e não o Natal (como quer o comércio e apregoam os menos informados).

Para compreender o nascimento de Jesus, é fundamental a consulta ao texto da Bíblia. Seja qual for a fé de quem lê as narrativas, não há como negar que os textos trazem, no mínimo, uma história cheia de ternura e de paz, dando bem o tom da essência do Natal. Transcrevo a seguir o trecho tirado do Evangelho de São Lucas, capítulo 2, versículos 1 a 20:

“Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o império. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa.

Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: “Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura”. De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.

Quando os anjos se afastaram, voltando para o céu, os pastores combinaram entre si: “Vamos a Belém ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou”. Foram então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que o anjo lhes anunciara sobre o menino. E todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Maria, porém, conservava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido, conforme o anjo lhes tinha anunciado.”


Algumas observações

As passagens bíblicas sobre a vinda de Jesus não podem ser tratadas como informações históricas. Não nos esqueçamos de que a Bíblia é um livro de religião, e muitos dados têm valor profundamente espiritual e simbólico.

A presença dos pastores é algo notável. Esses trabalhadores eram pouco valorizados na sociedade da época. É interessante ver que são eles os primeiros do povo a saberem do nascimento do Menino-Deus.

O nome Belém significa “Casa do Pão”. Era uma pequena cidade, mas com uma simbologia muito forte. É a cidade de origem de Davi, um antecessor importantíssimo de José, o pai adotivo de Jesus. Segundo o Evangelho de São Mateus (2,5-6), o profeta Miqueias (5,1) também profetizou que Jesus nasceria nesse lugar.

Observe que Jesus nasce como um pobre, em uma manjedoura (em português claro, um “cocho” ou “comedouro”), e é enterrado como rico, na sepultura que havia sido feita para José de Arimateia, um discípulo influente (Mt 27,57-60). Isso poderia ser visto como um símbolo de que a mensagem de Cristo é para todos, independentemente da classe social.

A data

Antes de tudo, é bom dizer que não se sabe exatamente quando o Salvador nasceu. O dia 25 de dezembro é simbólico. Mas por quê? A resposta é simples. Os primeiros cristãos, sobretudo os de Roma, aproveitaram as comemorações de uma festa pagã criada no ano de 274 pelo imperador Lúcio Domício Aureliano em honra ao deus Midas. Essa divindade, de origem persa, era cultuada sob o título de “Sol Invicto”. A data também celebrava o solstício de inverno (23 de dezembro no Hemisfério Norte) que, depois da noite mais longa do ano, o Sol retomava aos poucos a dominar os dias. Os cidadãos romanos realizavam grandes festas, jogos e sacrifícios no templo dedicado a esse deus.

Pegando uma “carona” naquela festança, os cristãos podiam comemorar a vinda do Salvador sem chamar muito a atenção dos perseguidores. Afinal, não havia data melhor, já que, enquanto os romanos adoravam o deus Sol, os cristãos poderiam celebrar em relativa paz o nascimento de Jesus, a Luz do Mundo, segundo o Evangelho de São João (8,12). Também se baseavam na passagem do profeta Malaquias (3,20): “Para vocês que temem a Javé [como o povo hebreu se referia a Deus] brilhará o sol da justiça, que cura com seus raios”.

Em certos ritos cristãos orientais, como em vários lugares no Leste da Europa, o Natal é celebrado no dia 6 de janeiro. Na Igreja Católica Romana (seguida pela maioria dos cristãos brasileiros), essa data comemora a Epifania (chamada popularmente de “Dia de Reis”), ou seja, a manifestação de Jesus à humanidade, esta representada pelos Reis Magos.

Muitos dias de festa

Engana-se quem acha que o Natal é só de 24 para 25 de dezembro. Pela grandiosidade da festa, a data é lembrada de forma muito especial nos oito dias seguintes como se eles fossem o próprio dia 25. Esse período é chamado de “Oitava do Natal”.

O Tempo do Natal começa na tarde do dia 24 de dezembro e segue pelo intervalo compreendido por três domingos seguintes, até a festa do Batismo do Senhor. Estão incluídas nesse período a Festa da Sagrada Família (Jesus, Maria e José – geralmente celebrada no primeiro domingo após o Natal), a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro) e a Epifania do Senhor (conhecida pelo povo como “Dia de Reis”), esta, no Brasil, festejada no domingo mais próximo do dia 6 de janeiro.

No período 2013-2014, portanto, o tempo do Natal começa no anoitecer de 24 de dezembro e vai até 12 de janeiro, inclusive. Depois disso, aí sim, é tempo de guardar os enfeites natalinos.

Outros “natais” na Igreja

Geralmente o dia dedicado aos santos lembra a data em que eles deixaram este mundo (para os católicos, o dia do nascimento para o céu). No entanto, a Igreja celebra apenas três nascimentos (para este mundo): além do aniversário de Jesus (25 de dezembro), a Igreja celebra outros dois (também chamados de natividades): a Natividade da Virgem Maria (8 de setembro) e a Natividade de São João Batista (24 de junho), esta exatamente seis meses antes do nascimento de Jesus.

Símbolos e personagens natalinos


Ainda hoje, são usados alguns símbolos da antiga festa romana. Outros foram incorporados ao longo do tempo, conforme se espalhava o cristianismo pelos povos. Assim, gestos e objetos de várias culturas ganharam um novo sentido a partir do contato com os cristãos. A presença de personagens, como pastores, anjos e Reis Magos, também deve ser interpretada como simbólica. Isso porque não há registros históricos precisos, e, conforme a cultura bíblica, às vezes, representam uma mensagem teológica.

- Cor branca
A cor dos paramentos litúrgicos é o branco, simbolizando a alegria e a festa.

- Árvore de Natal
A tradição de usar o pinheiro como árvore símbolo do Natal não é muito antiga. Alguns estudiosos dizem que esse hábito começou no início do século XX. O pinheiro tem um significado especial, já que, em países muito frios, essa é a única árvore que não perde as folhas e se mantém verde. É o símbolo da vida que sempre prevalece, mesmo em situações adversas. Para os cristãos, assim é Jesus: vida em qualquer lugar. É bom lembrar que esse é apenas um símbolo. Além de não ser obrigatório seu uso, outras espécies de árvore também podem ser enfeitadas para comemorar o nascimento de Jesus.

- Presépio
O presépio é um dos símbolos mais tocantes do Natal. A palavra significa “curral, estrebaria”. Segundo a tradição, o primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis, no Natal de 1223. A ideia desse famoso santo foi contemplar, de forma mais profunda, o mistério da vinda de Cristo. O presépio é montado alguns dias antes do Natal, mas a imagem do Menino Jesus costuma ser colocada na Vigília do Natal, na noite do dia 24 para 25 de dezembro. O presépio é um dos símbolos natalinos mais dignos e bonitos entre os católicos. O Papa Bento XVI, inclusive, convidou os fiéis a revigorarem o hábito de montar presépios. A cena do nascimento de Cristo costuma ganhar traços da cultura de cada local. Vale a pena visitá-los.

- Estrela de Natal
Os evangelhos narram que o nascimento de Jesus foi indicado por uma estrela. Alguns magos (que não necessariamente quer dizer “bruxos”), guiados pela luz daquele corpo celeste, saíram do Oriente e foram ao encontro de Jesus, em Belém. Normalmente, a estrela natalina é representada com quatro pontas, simbolizando as direções norte, sul, leste e oeste. Ela pode ser vista também com uma grande cauda, parecida com um cometa. Alguns registros encontrados em países orientais indicam que uma estrela, uma rara conjunção de planetas ou mesmo um cometa destacou-se no céu na mesma época à qual se atribui o nascimento de Cristo (ano 6 d. C.). Nunca é demais lembrar que a estrela-guia pode também ter aspecto mais espiritual do que científico.

- Reis Magos
Essas figuras despertam a curiosidade de muitos cristãos ao longo do tempo. A visita dos reis magos ao Menino Jesus é narrada somente no Evangelho de São Mateus (2,1-12). A Bíblia não chama esses personagens de reis, mas somente de magos, ou seja, sábios. A presença dessas pessoas em Israel não era tão rara assim. Muitos iam lá para conhecer a religião praticada naquelas terras. No caso dos chamados Reis Magos, não há informações precisas de quantos e nem de quando visitaram Jesus. A tradição diz que foram três: Gaspar, Melquior (ou Belquior) e Baltazar, representando os reinos da Síria, Pérsia e Etiópia (importantíssimos naquela época). No caso dos presentes, o Evangelho é mais preciso. O texto diz que o Menino Jesus recebeu três: ouro (representando a realeza de Cristo), incenso (representando a divindade) e mirra (a condição humana, já que esse produto é usado como perfume e na preparação de cadáveres para sepultamento). No início de janeiro, na festa da Epifania (manifestação), a Igreja revive a manifestação de Jesus aos magos, que simbolizam toda a humanidade. Em diversos países, inclusive na América Latina, as crianças esperam ansiosas pelos presentes dados pelos Reis Magos e não pelo Papai Noel.

- As velas
Geralmente a vela simboliza a fé em Jesus vivo. Para os cristãos, Cristo dá um novo brilho à vida, da mesma forma que a chama da vela clareia a escuridão. O Natal também é tempo recomeçar.

- Sinos
Os sinos de um templo têm a função de comunicar um acontecimento (como uma missa que vai começar) e também demonstrar alegria. Por isso, os sinos são símbolos do Natal. Sinal da alegria e do anúncio de que o mundo não deve ser o mesmo depois da vinda de Jesus.

- Bolas coloridas
O hábito de se enfeitar a árvore de Natal com bolas coloridas tem várias explicações. Acredita-se que esse costume veio da Escandinávia, como herança de antigas crenças, adaptadas pelos fiéis à cultura cristã. Outra versão diz que as bolas coloridas representam Jesus, a árvore vistosa que dá bons frutos, ou seja, dignos cristãos (veja o Evangelho de Mateus 7,17-20).

- A ceia
A tão badalada ceia de Natal não é (ou, pelo menos, não deveria ser) uma refeição comum. E não é por causa das guloseimas, mas pelo motivo que ela celebra. Em quase todas as religiões, a refeição é um momento especial. No cristianismo, isso não é diferente. A ceia de Natal remete-se à Santa Ceia, quando Jesus Cristo instituiu a Eucaristia. Jesus se autodenomina o “Pão vivo descido do Céu” (João 6,48-51), por isso a ceia é bem mais do que apreciar bebidas e comidas. A refeição festiva é um ato tão importante que Jesus comparou o Reino de Deus a um banquete (Mateus 22,1-14 e Lucas 14,15-24). Já deu para notar que a sofisticação dos pratos tem pouquíssima importância em uma ceia de Natal. O que vale é o clima de oração e, sobretudo, de alegria e partilha. Assim é que os cristãos, muitas vezes, remetem-se à vida eterna, que é comparada a um banquete festivo e sem fim.

- Presentes
Apesar de ter sido desvirtuado pela febre consumista, o ato de dar presentes no Natal tem uma simbologia interessante. Para os cristãos, os agrados representam Jesus, o maior presente que a humanidade já ganhou. Também quer dizer que todos também devem ser como presentes para o próximo, ou seja, representar a alegria, a boa surpresa, a doação. Na antiga Roma, para comemorar o deus Saturno, os senhores davam presentes aos seus escravos e ceavam juntos com eles. A troca de presentes pode ter origem nesse costume. Outra tradição conta que os presentes são uma referência às ofertas dadas pelos Reis Magos ao Menino Jesus (veja acima). O Evangelho de São Mateus (2,11) traz a passagem em que os sábios vindos do Oriente dão ouro, incenso e mirra ao Menino-Deus. Mesmo sendo um delicioso hábito, o ato de presentear em si não é tão importante para o real sentido do Natal. O verdadeiro olhar cristão reconhece que o maior presente é aquele dado por Deus todos os dias: a chance de recomeçar, de viver, de fazer o bem. Em alguns países, a troca de presentes não é feita necessariamente no dia do Natal. Isso pode acontecer no dia de São Nicolau (6 de dezembro) ou no dia 6 de janeiro, quando se celebra a festa da Epifania no Ocidente ou o próprio Natal (nos países de tradição ortodoxa).

- Papai Noel
Na verdade, esse personagem como o conhecemos hoje é um símbolo mais recente do Natal. A figura atual tem poucas conotações religiosas, já que a voracidade comercial transformou o “Bom Velhinho” em um garoto-propaganda tão requisitado que muitos se esquecem do próprio aniversariante: Jesus. Ele tem origem na pessoa de São Nicolau, um bispo do século IV, lembrado pela bondade e muito popular na Europa. Na Alemanha é chamado de Nikolaus e, nos países anglo-saxões, de São Claus. Suas vestes vermelhas como aparecem hoje foram idealizadas por publicitários estadunidenses, no século XIX. Antes, essa figura era representada com trajes de um bispo. Em tempo, a palavra “Noël” vem do francês e significa Natal. Em Portugal, o personagem é chamado de Papai Natal. Não é demais lembrar: o Natal não é a festa do Papai Noel e sim do nascimento de Jesus Cristo, a quem se devem todas as homenagens.

Para saber mais

Sugiro a consulta aos números 422 a 565 do Catecismo da Igreja Católica. Veja também os número 79 a 105 do Compêndio do Catecismo.

Veja também

Natal, festa de luz



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Natal, festa da luz

Presépio do Pipiripau (detalhe). Raimundo Machado de Azevedo (1894-1988).
Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte-MG

Wiliam Gonçalves*
Aproximamo-nos da solenidade do Natal do Senhor, quando a Igreja celebra a manifestação do Verbo Divino entre os homens. O costume de oferecer presentes uns aos outros pode nos fazer esquecer que o maior presente, e o mais significativo, foi o próprio Deus quem deu: seu Filho se fez nosso irmão.

Pensar um pouco sobre o surgimento da festa do Natal não será supérfluo. O Jesus Cristo da fé é o mesmo da História. A fé cristã está baseada em fatos. Mas é fato que o nascimento de Jesus não se deu há exatos 2013 anos. E o dia 25 de dezembro não é a data histórica em que Maria deu à luz aquele que é a “luz do mundo” (Jo 8,12).

Segundo os estudiosos, Jesus nasceu uns cinco anos, mais ou menos, antes de Cristo. Pode parecer confuso à primeira vista, mas é isto mesmo: Jesus Cristo nasceu antes do início da era cristã. Todavia, a aparente contradição se explica facilmente. Foi só no século VI que se começou a contar os tempos a partir do nascimento de Jesus. Um monge, chamado Dionísio Exíguo, foi quem propôs que o calendário dos cristãos deveria começar com o fato mais relevante da História: o nascimento do Salvador.

Dionísio fez os cálculos e  fixou o ano 753 do calendário romano como o ano 1 do nosso calendário. Mas suas contas estavam erradas. Seu erro, entretanto, nunca foi corrigido. Como o fato mais importante, o nascimento de Nosso Senhor, é um dado histórico inquestionável, não era mesmo necessário corrigir o erro de Dionísio. Além disso, a revolução provocada por Jesus, de fato, divide as eras. Seu nascimento marca a “plenitude do tempo”, quando “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4).

Por volta do ano 350, o 25 de dezembro já havia sido escolhido para a celebração do nascimento de Jesus Cristo no Ocidente. No entanto, os cristãos primitivos não conheciam essa celebração. Como dito acima, a data não é o dia histórico em que Jesus nasceu. Na verdade, não é possível determinar com precisão esse dia. Desde o tempo dos apóstolos, a ressurreição foi celebrada semanalmente. Mas não houve interesse, entre os primeiros cristãos, por uma comemoração do nascimento de Cristo.

A hipótese mais aceita pelos pesquisadores para a escolha da data de 25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus é a que afirma que a Igreja cristianizou  uma festa que os pagãos já celebravam. Os romanos, nesse dia, comemoravam o Sol Invictus, que renasce sempre e vence as trevas. A fim de prevenir os cristãos contra a força de atração de um festival pagão, a Igreja teria contraposto a festa do nascimento de Cristo na mesma data. E, para tal, pôde buscar justificativa na própria Sagrada Escritura.

O último livro profético do Antigo Testamento diz: “Para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas” (Ml 3,20). O título “sol da justiça” foi, desde o início, aplicado ao Messias. No quarto evangelho, está escrito que Jesus é “a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo 1,9). O próprio Senhor afirmou: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12,46).

O Natal é, assim, uma festa ligada ao simbolismo da luz desde sua origem. Foi uma estrela que guiou os magos a Belém. Um dos cânticos do evangelho segundo Lucas, falando daquele de quem João Batista foi o precursor,  afirma: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o Sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78s).

Um santo e luminoso Natal para todos. Deus seja louvado!


* Professor, licenciado em Filosofia.





domingo, 8 de dezembro de 2013

O povo à espera de um bebê: conheça o tempo do Advento

A coroa do Advento é um dos
símbolos da espera por Jesus.
O ano litúrgico católico se inicia quatro domingos antes do Natal. Esse primeiro período é chamado Advento. A palavra tem origem no latim adventus e significa “chegada” ou “vinda”. O tempo do Advento termina no entardecer de 24 de dezembro.

Em poucas palavras, podemos dizer que o Advento tem duas grandes motivações: a preparação para a festa do Natal, quando se celebra a primeira vinda de Jesus; e a espera da nova vinda de Cristo. O Advento também relembra a expectativa do antigo povo hebreu, que esperava a chegada do Salvador.

Nessa época, os católicos “arrumam a casa” (o espírito) para receber o principal convidado: Jesus. É um tempo de conversão, jejum, preces e de penitência, mas não se deve confundi-lo com a austeridade da Quaresma.

Características do Advento

Anunciação. Robert Campin (1375-1444).
Museus Reais de Belas Artes, Bruxelas, Bélgica.
Por ser uma época de preparação espiritual, a Igreja proclama muitos textos bíblicos que lembram profecias sobre a vinda de Jesus, a volta dele e as mensagens que tratam do começo de uma vida nova. Conheça outras particularidades do Advento:

O roxo: a cor litúrgica predominante nos paramentos. No terceiro domingo, chamado de Gaudete, palavra latina que significa “alegrai”, usa-se o cor-de-rosa (ou róseo), lembrando aos cristãos que o tempo de festa está se aproximando.

Coroa do Advento: esse ornamento é exposto nos templos logo no primeiro domingo do Advento. A coroa é feita com uma ramagem verde, representando a esperança e a vida. Um laço de fita vermelha significa o amor de Deus que envolve a humanidade e o amor das pessoas para com Jesus que vai nascer. Em cada domingo do Advento, acende-se uma vela até que, no último, todas iluminem a coroa. Não é obrigatório que cada uma das quatro velas tenha uma cor diferente.

Ausência do Hino de Louvor (Glória): como na Quaresma, no Advento não se canta o Hino de Louvor, entoado geralmente na primeira parte da missa. Isso simboliza o recolhimento das pessoas que preparam o espírito para receber Jesus. Na véspera do Natal (anoitecer de 24 de dezembro), esse hino volta a ser cantado com alegria. No entanto, nas solenidades que ocorrem durante o Advento, como a da Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro), o Hino de Louvor é cantado.

A novena: série de orações recitadas em nove dias pelo povo. Com cantos e leituras de textos bíblicos e orações, vários grupos fazem um balanço do ano que termina, lembram os desafios do cotidiano e rezam para receber dignamente o Menino Jesus, no Natal. Em cada região, há uma forma diferente de se organizar a novena de Natal. Procure saber como é na sua comunidade, no seu prédio, na sua empresa... Não é demais lembrar que a novena sempre deve terminar antes da solenidade do Natal.

Antífonas do Ó: do dia 17 ao dia 23, tempo conhecido por alguns como a “Semana Santa do Natal”, a Igreja canta ou reza na liturgia as célebres antífonas do Ó. O nome dessas orações se deve à exclamação que abre cada uma. São elas: 1º dia: O Sapientia (Ó Sabedoria); 2º dia: O Adonai (Ó Adonai – palavra de origem hebraica também usada para denominar Senhor); 3º dia: O Radix (Ó Raiz de Jessé); 4º dia: O Clavis (Ó Chave de Davi); 5º dia: O Oriens (Ó Sol do Oriente); 6º dia: O Rex gentium (Ó Rei das nações); 7º dia: O Emmanuel (Ó Emanuel – nome hebraico de Jesus).

Ano litúrgico e ano civil

A Páscoa é o centro da fé cristã e do calendário litúrgico.
Ressurreição de Jesus Cristo. Piero della Francesca (1420-1492).
Museu Cívico, Sansepolcro, Itália.
Em princípio, o ano litúrgico é independente do ano civil. Na Igreja, ele começa no Advento (quatro domingos antes do Natal) e termina solenemente do quinto domingo antes do Natal seguinte, nos festejos de Cristo Rei do Universo.

O ano civil é contado pelos 365 dias que a Terra gasta para girar em torno do Sol. Lembremos que o ano bissexto, com 366 dias, é só para acertar essa conta.

Muitas datas do ano litúrgico são marcadas pelo calendário lunar, como a Páscoa, a principal festa cristã e que celebra a Ressurreição de Jesus. Com base nela, são indicadas vários outros compromissos, como a Quaresma e as solenidades de Pentecostes, Corpus Christi, Santíssima Trindade e Sagrado Coração de Jesus. Não fica de fora nem a principal festa não sacra do Brasil: o carnaval. Recordemos que ele é um dia antes da Quarta-feira de Cinzas, a abertura da Quaresma.

O ano litúrgico também tem dois grandes núcleos: a Páscoa (indicada pelo calendário lunar) e o Natal, celebrado em 25 de dezembro (base no calendário solar).

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Os que morreram no Senhor

Todos os santos (Festum omnium sanctorum).
Bem-aventurado Frei Angélico (1387-1455). National Gallery, Londres

Wiliam Gonçalves*

Novembro se abre com a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos. Com a Igreja, lancemos um olhar sobre alguns aspectos das realidades últimas do homem. Que todos morreremos é a verdade mais certa. Mas o catolicismo afirma explicitamente que os que se colocam ao lado de Deus nesta vida continuam ao lado dele no além.

A morte não é o término da amizade que nos une a Deus e às pessoas que amamos. A bem dizer, para os que creem no Senhor, é como se ela não existisse. Nossa fé nos ensina que não somos só corpo físico: há uma dimensão em nós que não se deteriora com o tempo e nem se extingue com a morte. Conscientes disso, os antigos cristãos chamavam o dia da morte de “o dia do verdadeiro nascimento”. Já São Paulo dizia: “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro... desejo ardentemente partir para estar com Cristo, o que para mim é muito melhor” (Fl 1,21.23).

A data litúrgica do dia 1º de novembro coloca sob nosso olhar a admirável visão do céu, a visão da multidão sem conta dos que procedem de todos os povos e línguas da terra. Em meio a essa multidão, encontramos não só aqueles que a Igreja inscreveu em seu catálogo oficial dos santos, mas também  incontáveis anônimos que na vida andaram nos passos de Jesus. Quantos amigos e parentes, quantas pessoas simples para as quais ninguém olhava! Agora chegaram à casa do Pai e triunfam no céu, de onde podem nos valer como intercessores junto a Deus Nosso Senhor. Deles podemos dizer: “Estes são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e branquearam as suas vestes no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu santuário” (Ap 7,14s).

No dia 2 de novembro, a Igreja celebra a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Atentemos bem para o nome: não é simplesmente o dia dos mortos, mas o dia dos “fiéis defuntos”. A quem foram fiéis? A Jesus Cristo, aquele “que vai à frente de nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,2). Nessa data, a Igreja quer nos lembrar de que há um purgatório e que devemos auxiliar com nossas orações os que se encontram nesse estado póstumo.

Nosso tempo dá a impressão de que os católicos andamos meio esquecidos dessas realidades. Pouco se ouve sobre purgatório e sufrágio pelos mortos, mesmo nas pregações ao povo. Alguns, erroneamente, pensam que esses pontos são conteúdos ultrapassados da catequese antiga. Lembremos, no entanto, os parágrafos 1030ss do Catecismo da Igreja Católica: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja denomina Purgatório essa purificação final dos eleitos... Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: ‘Eis por que ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado’” (2Mc 12,46).

O que a Igreja quer nos ensinar neste início do mês de novembro é o bonito conceito teológico que ela chama de “comunhão dos santos”: os cristãos na terra (Igreja militante), no céu (Igreja triunfante) e no purgatório (Igreja padecente) formam uma grande unidade. Nada nos pode separar. Uns cooperamos com os outros. O amor nos mantém unidos e “o amor jamais passará” (1Cor 13,8).

A morte e os que morreram no Senhor não nos inspiram medo. O autor da Carta aos Hebreus afirma: “Vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, o mediador da nova aliança e da aspersão com um sangue mais eloquente que o de Abel” (Hb 12,22-24). Deus seja louvado!

* Professor, licenciado em Filosofia.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: a Santíssima Trindade



Antigo ícone ortodoxo mostra os três anjos que visitaram Abraão (Gn 18ss),
representando a Santíssima Trindade


Um das maiores verdades de fé (chamadas também de “mistérios”) para os católicos e membros da maioria das denominações cristãs é a Santíssima Trindade, nome dado a Deus. Com base bíblica, esse é o principal dogma da Igreja Católica. Em outras palavras, a base da crença do fiel é a certeza da existência das três pessoas: o Pai (e Mãe, segundo o Papa João Paulo I), o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo (o espírito de Deus).

Em poucas palavras, a Santíssima Trindade é, para quase todas as denominações cristãs, a comunhão perfeita e indissolúvel entre as três pessoas que a formam. Um símbolo muito usado para ilustrar a Trindade é o de três chamas juntas, formando um só fogo. Mesmo vindas de três pavios diferentes, ao unirem-se, tornam-se uma só luz ao mesmo tempo em que iluminam individualmente.

Toda oração ou rito católico começa com o sinal da cruz, com o qual o fiel traça sua fronte ao mesmo tempo em que ele diz ser aquele ato feito em nome da Santíssima Trindade. Diz-se: “Em nome do Pai (coloca-se a mão sobre a testa), do Filho (sobre o peito) e do Espírito (a mão sobre o ombro esquerdo) Santo (sobre o ombro direito), amém”.

A essência da fé cristã e católica, portanto, está na crença na Santíssima Trindade. Em nome dela se batiza, e, assim, a pessoa passa a fazer parte da comunidade eclesial.

Saiba mais



- Veja o que diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica.

- No calendário litúrgico, há uma data especial para celebrar a Santíssima Trindade: o domingo seguinte ao de Pentecostes.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: o Juízo Final e a volta de Cristo

O Juízo Final (detalhe). Michelangelo (1475-1564). Capela Sistina, Vaticano

Entre os cristãos, existe a crença de que Cristo voltará, de forma gloriosa, para julgar os homens (vivos e mortos) pela última vez. Isso tem base no evangelho. Por meio de parábolas e muitas figuras de linguagem,  Jesus menciona esse acontecimento. Segundo a fé católica, nesse dia, haverá também a ressurreição de todos os falecidos, e os julgados “salvos” por Deus entrarão, em corpo e espírito, no Céu.

Quando e como, somente Deus sabe. Nem mesmo os anjos têm conhecimento desse “mistério”, segundo o próprio Cristo.

Esse tema é explicável apenas pelo olhar da fé. Se tiver oportunidade, converse com mais de um teólogo sobre esse assunto, inclusive de denominações cristãs diferentes.

Saiba mais


- Evangelho de São Mateus, capítulo 24

- Evangelho de São Marcos, capítulo 13

- Compêndio do Catecismo da Igreja (números 132 a 135)


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: a ressurreição de Jesus

Procissão de Páscoa,
Ouro Preto-MG
Três dias depois após a execução de Cristo na cruz, os apóstolos testemunham Jesus vivo, em carne e osso. Se você acha isso estranho, imagine para aqueles homens que viram “ao vivo” esse fenômeno. Evidentemente isso é uma “verdade de fé” (o mesmo que “mistério”), e a lógica puramente humana não cabe nesse caso.

Esse grande mistério é o centro da fé cristã. São Paulo, em sua primeira carta à comunidade cristã de Corinto (Grécia), diz enfaticamente que, se um fiel não acredita nisso, ele está perdendo tempo:

Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vocês dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm. Se os mortos não ressuscitam, então somos testemunhas falsas de Deus, pois estamos testemunhando contra Deus, ao dizermos que Deus ressuscitou a Cristo. Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória, e vocês ainda estão nos seus pecados. E, desse modo, aqueles que morreram em Cristo estão perdidos. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. De fato, já que a morte veio através de um homem [aqui, São Paulo se refere a Adão], também por um homem vem a ressurreição dos mortos (1ª Carta aos Coríntios, capítulo 15, versículos 12 a 21).

A ressurreição no dia a dia


A valorização da vida é fundamental na fé cristã. Assim, o fiel não defende atos que promovam a morte, seja ela física ou espiritual. Por isso a firmeza da Igreja em sua posição contra o aborto, a eutanásia, as drogas, a destruição da dignidade da pessoa e o extermínio da natureza, por exemplo.

Ressuscitar não é simplesmente um ato de voltar a viver. Esse é outro ensinamento para o cristão. O ocorrido com Jesus é uma mensagem dizendo que sempre há tempo para uma vida nova, para recomeçar, ressuscitar. Pela fé cristã, se alguém tem uma vida, digamos, desregrada, essa pessoa pode começar agora, neste minuto, uma história diferente, baseada no bem. É o que se pode chamar de conversão (não necessariamente a uma igreja específica) e, mais profundamente, de ressurreição.

A verdadeira morte


Você pode estar se perguntando sobre o que é a morte no olhar cristão. Vejamos: uma pessoa, para estar morta, não necessariamente precisa descer ao túmulo. Há vários vivos mortos, ou seja, estão vivos fisicamente, mas com o espírito escravizado pelas várias formas de egoísmo, pela falta de amor a si e ao outro, e até pela falta de consciência do próprio corpo, de viver plenamente as alegrias e dores do dia a dia. Mais do que tentar dar esclarecimentos, é bom fazer-nos uma pergunta: uma vida no mal já não seria o início da condenação eterna, da morte em si? Precisa ainda haver inferno?

A vida além-túmulo


Segundo a doutrina cristã, incontestavelmente, há vida após a morte. Por isso, quando um católico conversa com um santo, um parente já falecido, ele não está invocando os mortos, como pensam alguns, mas falando a uma pessoa considerada viva, que ressuscitou e está na eternidade.

Os católicos acreditam que, após sua morte física, ressuscitarão em espírito, para, depois, no Juízo Final, no chamado “último dia”, ressuscitar também em carne, como aconteceu com Cristo (e, conforme ensina a Igreja, foi antecipado a Maria, a mãe de Jesus).

O cristianismo e a reencarnação


A reencarnação não é aceita pela maioria das denominações cristãs. Um dos argumentos, entre tantos, é que Jesus Cristo venceu a morte para resgatar da morte física e espiritual, e de uma vez por todas, a humanidade. O cristão que aceita a ideia da reencarnação admite estar incompleta a salvação de Cristo, algo considerado uma contradição diante da própria fé.

Com base nesse conceito, quando um cristão morre, não é adequado dizer que o finado “desencarnou”. Esse termo é mais adequado a um adepto do espiritismo ou de outras religiões que pregam a reencarnação. Como já foi dito antes, praticamente todos os cristãos acreditam na ressurreição.

Rua de Ouro Preto-MG enfeitada para a
procissão do Domingo da Ressurreição

Domingo: o Dia do Senhor


A ressurreição de Jesus Cristo é tão importante para a crença católica que a principal festa da Igreja é a Páscoa, quando se celebra esse mistério. Toda a liturgia lembra a alegria, tanto na decoração dos altares quanto na animação do espírito de um fiel que tem alguma noção do significado dessa data.
A Páscoa de Cristo é comemorada a toda hora. O domingo, no entanto, é um dia privilegiado para essa celebração. Assim, para os católicos e fiéis de muitas outras igrejas cristãs, o domingo é o dia sagrado (o Dia do Senhor), o dia em que Jesus voltou à vida, segundo os evangelhos.

A liturgia dominical católica começa na tarde do sábado e vai até o fim do domingo. Essa configuração se baseia na forma como os judeus contavam as horas do dia, começando pelo entardecer da véspera e terminando no entardecer seguinte.

Procissão de Páscoa,
Ouro Preto-MG

Saiba mais



- Para aprofundar mais sobre o tema da ressurreição de Cristo, nada melhor do que consultar os próprios evangelhos, a principal fonte da fé cristã. Eis as indicações:
Evangelho de São Mateus, capítulo 28, versículos 1 a 8;
Evangelho de São Marcos, capítulo 16, versículos 1 a 9;
Evangelho de São Lucas, capítulo 24, versículos 1 a 12; e
Evangelho de São João, todo o capítulo 20.

- Compêndio do Catecismo da Igreja (números 112 a 131)