terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Festa de muitos dias: conheça mais sobre o tempo do Natal

Antes entrar nos detalhes sobre as festividades natalinas, ou seja, a comemoração do nascimento de Jesus, é bom esclarecer um ponto importante: a principal festa cristã é a Páscoa, celebração da ressurreição de Jesus, e não o Natal (como quer o comércio e apregoam os menos informados).

Para compreender o nascimento de Jesus, é fundamental a consulta ao texto da Bíblia. Seja qual for a fé de quem lê as narrativas, não há como negar que os textos trazem, no mínimo, uma história cheia de ternura e de paz, dando bem o tom da essência do Natal. Transcrevo a seguir o trecho tirado do Evangelho de São Lucas, capítulo 2, versículos 1 a 20:

“Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o império. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa.

Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: “Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura”. De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.

Quando os anjos se afastaram, voltando para o céu, os pastores combinaram entre si: “Vamos a Belém ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou”. Foram então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que o anjo lhes anunciara sobre o menino. E todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Maria, porém, conservava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido, conforme o anjo lhes tinha anunciado.”


Algumas observações

As passagens bíblicas sobre a vinda de Jesus não podem ser tratadas como informações históricas. Não nos esqueçamos de que a Bíblia é um livro de religião, e muitos dados têm valor profundamente espiritual e simbólico.

A presença dos pastores é algo notável. Esses trabalhadores eram pouco valorizados na sociedade da época. É interessante ver que são eles os primeiros do povo a saberem do nascimento do Menino-Deus.

O nome Belém significa “Casa do Pão”. Era uma pequena cidade, mas com uma simbologia muito forte. É a cidade de origem de Davi, um antecessor importantíssimo de José, o pai adotivo de Jesus. Segundo o Evangelho de São Mateus (2,5-6), o profeta Miqueias (5,1) também profetizou que Jesus nasceria nesse lugar.

Observe que Jesus nasce como um pobre, em uma manjedoura (em português claro, um “cocho” ou “comedouro”), e é enterrado como rico, na sepultura que havia sido feita para José de Arimateia, um discípulo influente (Mt 27,57-60). Isso poderia ser visto como um símbolo de que a mensagem de Cristo é para todos, independentemente da classe social.

A data

Antes de tudo, é bom dizer que não se sabe exatamente quando o Salvador nasceu. O dia 25 de dezembro é simbólico. Mas por quê? A resposta é simples. Os primeiros cristãos, sobretudo os de Roma, aproveitaram as comemorações de uma festa pagã criada no ano de 274 pelo imperador Lúcio Domício Aureliano em honra ao deus Midas. Essa divindade, de origem persa, era cultuada sob o título de “Sol Invicto”. A data também celebrava o solstício de inverno (23 de dezembro no Hemisfério Norte) que, depois da noite mais longa do ano, o Sol retomava aos poucos a dominar os dias. Os cidadãos romanos realizavam grandes festas, jogos e sacrifícios no templo dedicado a esse deus.

Pegando uma “carona” naquela festança, os cristãos podiam comemorar a vinda do Salvador sem chamar muito a atenção dos perseguidores. Afinal, não havia data melhor, já que, enquanto os romanos adoravam o deus Sol, os cristãos poderiam celebrar em relativa paz o nascimento de Jesus, a Luz do Mundo, segundo o Evangelho de São João (8,12). Também se baseavam na passagem do profeta Malaquias (3,20): “Para vocês que temem a Javé [como o povo hebreu se referia a Deus] brilhará o sol da justiça, que cura com seus raios”.

Em certos ritos cristãos orientais, como em vários lugares no Leste da Europa, o Natal é celebrado no dia 6 de janeiro. Na Igreja Católica Romana (seguida pela maioria dos cristãos brasileiros), essa data comemora a Epifania (chamada popularmente de “Dia de Reis”), ou seja, a manifestação de Jesus à humanidade, esta representada pelos Reis Magos.

Muitos dias de festa

Engana-se quem acha que o Natal é só de 24 para 25 de dezembro. Pela grandiosidade da festa, a data é lembrada de forma muito especial nos oito dias seguintes como se eles fossem o próprio dia 25. Esse período é chamado de “Oitava do Natal”.

O Tempo do Natal começa na tarde do dia 24 de dezembro e segue pelo intervalo compreendido por três domingos seguintes, até a festa do Batismo do Senhor. Estão incluídas nesse período a Festa da Sagrada Família (Jesus, Maria e José – geralmente celebrada no primeiro domingo após o Natal), a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro) e a Epifania do Senhor (conhecida pelo povo como “Dia de Reis”), esta, no Brasil, festejada no domingo mais próximo do dia 6 de janeiro.

No período 2013-2014, portanto, o tempo do Natal começa no anoitecer de 24 de dezembro e vai até 12 de janeiro, inclusive. Depois disso, aí sim, é tempo de guardar os enfeites natalinos.

Outros “natais” na Igreja

Geralmente o dia dedicado aos santos lembra a data em que eles deixaram este mundo (para os católicos, o dia do nascimento para o céu). No entanto, a Igreja celebra apenas três nascimentos (para este mundo): além do aniversário de Jesus (25 de dezembro), a Igreja celebra outros dois (também chamados de natividades): a Natividade da Virgem Maria (8 de setembro) e a Natividade de São João Batista (24 de junho), esta exatamente seis meses antes do nascimento de Jesus.

Símbolos e personagens natalinos


Ainda hoje, são usados alguns símbolos da antiga festa romana. Outros foram incorporados ao longo do tempo, conforme se espalhava o cristianismo pelos povos. Assim, gestos e objetos de várias culturas ganharam um novo sentido a partir do contato com os cristãos. A presença de personagens, como pastores, anjos e Reis Magos, também deve ser interpretada como simbólica. Isso porque não há registros históricos precisos, e, conforme a cultura bíblica, às vezes, representam uma mensagem teológica.

- Cor branca
A cor dos paramentos litúrgicos é o branco, simbolizando a alegria e a festa.

- Árvore de Natal
A tradição de usar o pinheiro como árvore símbolo do Natal não é muito antiga. Alguns estudiosos dizem que esse hábito começou no início do século XX. O pinheiro tem um significado especial, já que, em países muito frios, essa é a única árvore que não perde as folhas e se mantém verde. É o símbolo da vida que sempre prevalece, mesmo em situações adversas. Para os cristãos, assim é Jesus: vida em qualquer lugar. É bom lembrar que esse é apenas um símbolo. Além de não ser obrigatório seu uso, outras espécies de árvore também podem ser enfeitadas para comemorar o nascimento de Jesus.

- Presépio
O presépio é um dos símbolos mais tocantes do Natal. A palavra significa “curral, estrebaria”. Segundo a tradição, o primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis, no Natal de 1223. A ideia desse famoso santo foi contemplar, de forma mais profunda, o mistério da vinda de Cristo. O presépio é montado alguns dias antes do Natal, mas a imagem do Menino Jesus costuma ser colocada na Vigília do Natal, na noite do dia 24 para 25 de dezembro. O presépio é um dos símbolos natalinos mais dignos e bonitos entre os católicos. O Papa Bento XVI, inclusive, convidou os fiéis a revigorarem o hábito de montar presépios. A cena do nascimento de Cristo costuma ganhar traços da cultura de cada local. Vale a pena visitá-los.

- Estrela de Natal
Os evangelhos narram que o nascimento de Jesus foi indicado por uma estrela. Alguns magos (que não necessariamente quer dizer “bruxos”), guiados pela luz daquele corpo celeste, saíram do Oriente e foram ao encontro de Jesus, em Belém. Normalmente, a estrela natalina é representada com quatro pontas, simbolizando as direções norte, sul, leste e oeste. Ela pode ser vista também com uma grande cauda, parecida com um cometa. Alguns registros encontrados em países orientais indicam que uma estrela, uma rara conjunção de planetas ou mesmo um cometa destacou-se no céu na mesma época à qual se atribui o nascimento de Cristo (ano 6 d. C.). Nunca é demais lembrar que a estrela-guia pode também ter aspecto mais espiritual do que científico.

- Reis Magos
Essas figuras despertam a curiosidade de muitos cristãos ao longo do tempo. A visita dos reis magos ao Menino Jesus é narrada somente no Evangelho de São Mateus (2,1-12). A Bíblia não chama esses personagens de reis, mas somente de magos, ou seja, sábios. A presença dessas pessoas em Israel não era tão rara assim. Muitos iam lá para conhecer a religião praticada naquelas terras. No caso dos chamados Reis Magos, não há informações precisas de quantos e nem de quando visitaram Jesus. A tradição diz que foram três: Gaspar, Melquior (ou Belquior) e Baltazar, representando os reinos da Síria, Pérsia e Etiópia (importantíssimos naquela época). No caso dos presentes, o Evangelho é mais preciso. O texto diz que o Menino Jesus recebeu três: ouro (representando a realeza de Cristo), incenso (representando a divindade) e mirra (a condição humana, já que esse produto é usado como perfume e na preparação de cadáveres para sepultamento). No início de janeiro, na festa da Epifania (manifestação), a Igreja revive a manifestação de Jesus aos magos, que simbolizam toda a humanidade. Em diversos países, inclusive na América Latina, as crianças esperam ansiosas pelos presentes dados pelos Reis Magos e não pelo Papai Noel.

- As velas
Geralmente a vela simboliza a fé em Jesus vivo. Para os cristãos, Cristo dá um novo brilho à vida, da mesma forma que a chama da vela clareia a escuridão. O Natal também é tempo recomeçar.

- Sinos
Os sinos de um templo têm a função de comunicar um acontecimento (como uma missa que vai começar) e também demonstrar alegria. Por isso, os sinos são símbolos do Natal. Sinal da alegria e do anúncio de que o mundo não deve ser o mesmo depois da vinda de Jesus.

- Bolas coloridas
O hábito de se enfeitar a árvore de Natal com bolas coloridas tem várias explicações. Acredita-se que esse costume veio da Escandinávia, como herança de antigas crenças, adaptadas pelos fiéis à cultura cristã. Outra versão diz que as bolas coloridas representam Jesus, a árvore vistosa que dá bons frutos, ou seja, dignos cristãos (veja o Evangelho de Mateus 7,17-20).

- A ceia
A tão badalada ceia de Natal não é (ou, pelo menos, não deveria ser) uma refeição comum. E não é por causa das guloseimas, mas pelo motivo que ela celebra. Em quase todas as religiões, a refeição é um momento especial. No cristianismo, isso não é diferente. A ceia de Natal remete-se à Santa Ceia, quando Jesus Cristo instituiu a Eucaristia. Jesus se autodenomina o “Pão vivo descido do Céu” (João 6,48-51), por isso a ceia é bem mais do que apreciar bebidas e comidas. A refeição festiva é um ato tão importante que Jesus comparou o Reino de Deus a um banquete (Mateus 22,1-14 e Lucas 14,15-24). Já deu para notar que a sofisticação dos pratos tem pouquíssima importância em uma ceia de Natal. O que vale é o clima de oração e, sobretudo, de alegria e partilha. Assim é que os cristãos, muitas vezes, remetem-se à vida eterna, que é comparada a um banquete festivo e sem fim.

- Presentes
Apesar de ter sido desvirtuado pela febre consumista, o ato de dar presentes no Natal tem uma simbologia interessante. Para os cristãos, os agrados representam Jesus, o maior presente que a humanidade já ganhou. Também quer dizer que todos também devem ser como presentes para o próximo, ou seja, representar a alegria, a boa surpresa, a doação. Na antiga Roma, para comemorar o deus Saturno, os senhores davam presentes aos seus escravos e ceavam juntos com eles. A troca de presentes pode ter origem nesse costume. Outra tradição conta que os presentes são uma referência às ofertas dadas pelos Reis Magos ao Menino Jesus (veja acima). O Evangelho de São Mateus (2,11) traz a passagem em que os sábios vindos do Oriente dão ouro, incenso e mirra ao Menino-Deus. Mesmo sendo um delicioso hábito, o ato de presentear em si não é tão importante para o real sentido do Natal. O verdadeiro olhar cristão reconhece que o maior presente é aquele dado por Deus todos os dias: a chance de recomeçar, de viver, de fazer o bem. Em alguns países, a troca de presentes não é feita necessariamente no dia do Natal. Isso pode acontecer no dia de São Nicolau (6 de dezembro) ou no dia 6 de janeiro, quando se celebra a festa da Epifania no Ocidente ou o próprio Natal (nos países de tradição ortodoxa).

- Papai Noel
Na verdade, esse personagem como o conhecemos hoje é um símbolo mais recente do Natal. A figura atual tem poucas conotações religiosas, já que a voracidade comercial transformou o “Bom Velhinho” em um garoto-propaganda tão requisitado que muitos se esquecem do próprio aniversariante: Jesus. Ele tem origem na pessoa de São Nicolau, um bispo do século IV, lembrado pela bondade e muito popular na Europa. Na Alemanha é chamado de Nikolaus e, nos países anglo-saxões, de São Claus. Suas vestes vermelhas como aparecem hoje foram idealizadas por publicitários estadunidenses, no século XIX. Antes, essa figura era representada com trajes de um bispo. Em tempo, a palavra “Noël” vem do francês e significa Natal. Em Portugal, o personagem é chamado de Papai Natal. Não é demais lembrar: o Natal não é a festa do Papai Noel e sim do nascimento de Jesus Cristo, a quem se devem todas as homenagens.

Para saber mais

Sugiro a consulta aos números 422 a 565 do Catecismo da Igreja Católica. Veja também os número 79 a 105 do Compêndio do Catecismo.

Veja também

Natal, festa de luz



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Natal, festa da luz

Presépio do Pipiripau (detalhe). Raimundo Machado de Azevedo (1894-1988).
Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte-MG

Wiliam Gonçalves*
Aproximamo-nos da solenidade do Natal do Senhor, quando a Igreja celebra a manifestação do Verbo Divino entre os homens. O costume de oferecer presentes uns aos outros pode nos fazer esquecer que o maior presente, e o mais significativo, foi o próprio Deus quem deu: seu Filho se fez nosso irmão.

Pensar um pouco sobre o surgimento da festa do Natal não será supérfluo. O Jesus Cristo da fé é o mesmo da História. A fé cristã está baseada em fatos. Mas é fato que o nascimento de Jesus não se deu há exatos 2013 anos. E o dia 25 de dezembro não é a data histórica em que Maria deu à luz aquele que é a “luz do mundo” (Jo 8,12).

Segundo os estudiosos, Jesus nasceu uns cinco anos, mais ou menos, antes de Cristo. Pode parecer confuso à primeira vista, mas é isto mesmo: Jesus Cristo nasceu antes do início da era cristã. Todavia, a aparente contradição se explica facilmente. Foi só no século VI que se começou a contar os tempos a partir do nascimento de Jesus. Um monge, chamado Dionísio Exíguo, foi quem propôs que o calendário dos cristãos deveria começar com o fato mais relevante da História: o nascimento do Salvador.

Dionísio fez os cálculos e  fixou o ano 753 do calendário romano como o ano 1 do nosso calendário. Mas suas contas estavam erradas. Seu erro, entretanto, nunca foi corrigido. Como o fato mais importante, o nascimento de Nosso Senhor, é um dado histórico inquestionável, não era mesmo necessário corrigir o erro de Dionísio. Além disso, a revolução provocada por Jesus, de fato, divide as eras. Seu nascimento marca a “plenitude do tempo”, quando “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4).

Por volta do ano 350, o 25 de dezembro já havia sido escolhido para a celebração do nascimento de Jesus Cristo no Ocidente. No entanto, os cristãos primitivos não conheciam essa celebração. Como dito acima, a data não é o dia histórico em que Jesus nasceu. Na verdade, não é possível determinar com precisão esse dia. Desde o tempo dos apóstolos, a ressurreição foi celebrada semanalmente. Mas não houve interesse, entre os primeiros cristãos, por uma comemoração do nascimento de Cristo.

A hipótese mais aceita pelos pesquisadores para a escolha da data de 25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus é a que afirma que a Igreja cristianizou  uma festa que os pagãos já celebravam. Os romanos, nesse dia, comemoravam o Sol Invictus, que renasce sempre e vence as trevas. A fim de prevenir os cristãos contra a força de atração de um festival pagão, a Igreja teria contraposto a festa do nascimento de Cristo na mesma data. E, para tal, pôde buscar justificativa na própria Sagrada Escritura.

O último livro profético do Antigo Testamento diz: “Para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas” (Ml 3,20). O título “sol da justiça” foi, desde o início, aplicado ao Messias. No quarto evangelho, está escrito que Jesus é “a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo 1,9). O próprio Senhor afirmou: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12,46).

O Natal é, assim, uma festa ligada ao simbolismo da luz desde sua origem. Foi uma estrela que guiou os magos a Belém. Um dos cânticos do evangelho segundo Lucas, falando daquele de quem João Batista foi o precursor,  afirma: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o Sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78s).

Um santo e luminoso Natal para todos. Deus seja louvado!


* Professor, licenciado em Filosofia.





domingo, 8 de dezembro de 2013

O povo à espera de um bebê: conheça o tempo do Advento

A coroa do Advento é um dos
símbolos da espera por Jesus.
O ano litúrgico católico se inicia quatro domingos antes do Natal. Esse primeiro período é chamado Advento. A palavra tem origem no latim adventus e significa “chegada” ou “vinda”. O tempo do Advento termina no entardecer de 24 de dezembro.

Em poucas palavras, podemos dizer que o Advento tem duas grandes motivações: a preparação para a festa do Natal, quando se celebra a primeira vinda de Jesus; e a espera da nova vinda de Cristo. O Advento também relembra a expectativa do antigo povo hebreu, que esperava a chegada do Salvador.

Nessa época, os católicos “arrumam a casa” (o espírito) para receber o principal convidado: Jesus. É um tempo de conversão, jejum, preces e de penitência, mas não se deve confundi-lo com a austeridade da Quaresma.

Características do Advento

Anunciação. Robert Campin (1375-1444).
Museus Reais de Belas Artes, Bruxelas, Bélgica.
Por ser uma época de preparação espiritual, a Igreja proclama muitos textos bíblicos que lembram profecias sobre a vinda de Jesus, a volta dele e as mensagens que tratam do começo de uma vida nova. Conheça outras particularidades do Advento:

O roxo: a cor litúrgica predominante nos paramentos. No terceiro domingo, chamado de Gaudete, palavra latina que significa “alegrai”, usa-se o cor-de-rosa (ou róseo), lembrando aos cristãos que o tempo de festa está se aproximando.

Coroa do Advento: esse ornamento é exposto nos templos logo no primeiro domingo do Advento. A coroa é feita com uma ramagem verde, representando a esperança e a vida. Um laço de fita vermelha significa o amor de Deus que envolve a humanidade e o amor das pessoas para com Jesus que vai nascer. Em cada domingo do Advento, acende-se uma vela até que, no último, todas iluminem a coroa. Não é obrigatório que cada uma das quatro velas tenha uma cor diferente.

Ausência do Hino de Louvor (Glória): como na Quaresma, no Advento não se canta o Hino de Louvor, entoado geralmente na primeira parte da missa. Isso simboliza o recolhimento das pessoas que preparam o espírito para receber Jesus. Na véspera do Natal (anoitecer de 24 de dezembro), esse hino volta a ser cantado com alegria. No entanto, nas solenidades que ocorrem durante o Advento, como a da Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro), o Hino de Louvor é cantado.

A novena: série de orações recitadas em nove dias pelo povo. Com cantos e leituras de textos bíblicos e orações, vários grupos fazem um balanço do ano que termina, lembram os desafios do cotidiano e rezam para receber dignamente o Menino Jesus, no Natal. Em cada região, há uma forma diferente de se organizar a novena de Natal. Procure saber como é na sua comunidade, no seu prédio, na sua empresa... Não é demais lembrar que a novena sempre deve terminar antes da solenidade do Natal.

Antífonas do Ó: do dia 17 ao dia 23, tempo conhecido por alguns como a “Semana Santa do Natal”, a Igreja canta ou reza na liturgia as célebres antífonas do Ó. O nome dessas orações se deve à exclamação que abre cada uma. São elas: 1º dia: O Sapientia (Ó Sabedoria); 2º dia: O Adonai (Ó Adonai – palavra de origem hebraica também usada para denominar Senhor); 3º dia: O Radix (Ó Raiz de Jessé); 4º dia: O Clavis (Ó Chave de Davi); 5º dia: O Oriens (Ó Sol do Oriente); 6º dia: O Rex gentium (Ó Rei das nações); 7º dia: O Emmanuel (Ó Emanuel – nome hebraico de Jesus).

Ano litúrgico e ano civil

A Páscoa é o centro da fé cristã e do calendário litúrgico.
Ressurreição de Jesus Cristo. Piero della Francesca (1420-1492).
Museu Cívico, Sansepolcro, Itália.
Em princípio, o ano litúrgico é independente do ano civil. Na Igreja, ele começa no Advento (quatro domingos antes do Natal) e termina solenemente do quinto domingo antes do Natal seguinte, nos festejos de Cristo Rei do Universo.

O ano civil é contado pelos 365 dias que a Terra gasta para girar em torno do Sol. Lembremos que o ano bissexto, com 366 dias, é só para acertar essa conta.

Muitas datas do ano litúrgico são marcadas pelo calendário lunar, como a Páscoa, a principal festa cristã e que celebra a Ressurreição de Jesus. Com base nela, são indicadas vários outros compromissos, como a Quaresma e as solenidades de Pentecostes, Corpus Christi, Santíssima Trindade e Sagrado Coração de Jesus. Não fica de fora nem a principal festa não sacra do Brasil: o carnaval. Recordemos que ele é um dia antes da Quarta-feira de Cinzas, a abertura da Quaresma.

O ano litúrgico também tem dois grandes núcleos: a Páscoa (indicada pelo calendário lunar) e o Natal, celebrado em 25 de dezembro (base no calendário solar).

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Os que morreram no Senhor

Todos os santos (Festum omnium sanctorum).
Bem-aventurado Frei Angélico (1387-1455). National Gallery, Londres

Wiliam Gonçalves*

Novembro se abre com a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos. Com a Igreja, lancemos um olhar sobre alguns aspectos das realidades últimas do homem. Que todos morreremos é a verdade mais certa. Mas o catolicismo afirma explicitamente que os que se colocam ao lado de Deus nesta vida continuam ao lado dele no além.

A morte não é o término da amizade que nos une a Deus e às pessoas que amamos. A bem dizer, para os que creem no Senhor, é como se ela não existisse. Nossa fé nos ensina que não somos só corpo físico: há uma dimensão em nós que não se deteriora com o tempo e nem se extingue com a morte. Conscientes disso, os antigos cristãos chamavam o dia da morte de “o dia do verdadeiro nascimento”. Já São Paulo dizia: “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro... desejo ardentemente partir para estar com Cristo, o que para mim é muito melhor” (Fl 1,21.23).

A data litúrgica do dia 1º de novembro coloca sob nosso olhar a admirável visão do céu, a visão da multidão sem conta dos que procedem de todos os povos e línguas da terra. Em meio a essa multidão, encontramos não só aqueles que a Igreja inscreveu em seu catálogo oficial dos santos, mas também  incontáveis anônimos que na vida andaram nos passos de Jesus. Quantos amigos e parentes, quantas pessoas simples para as quais ninguém olhava! Agora chegaram à casa do Pai e triunfam no céu, de onde podem nos valer como intercessores junto a Deus Nosso Senhor. Deles podemos dizer: “Estes são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e branquearam as suas vestes no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu santuário” (Ap 7,14s).

No dia 2 de novembro, a Igreja celebra a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Atentemos bem para o nome: não é simplesmente o dia dos mortos, mas o dia dos “fiéis defuntos”. A quem foram fiéis? A Jesus Cristo, aquele “que vai à frente de nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,2). Nessa data, a Igreja quer nos lembrar de que há um purgatório e que devemos auxiliar com nossas orações os que se encontram nesse estado póstumo.

Nosso tempo dá a impressão de que os católicos andamos meio esquecidos dessas realidades. Pouco se ouve sobre purgatório e sufrágio pelos mortos, mesmo nas pregações ao povo. Alguns, erroneamente, pensam que esses pontos são conteúdos ultrapassados da catequese antiga. Lembremos, no entanto, os parágrafos 1030ss do Catecismo da Igreja Católica: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja denomina Purgatório essa purificação final dos eleitos... Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: ‘Eis por que ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado’” (2Mc 12,46).

O que a Igreja quer nos ensinar neste início do mês de novembro é o bonito conceito teológico que ela chama de “comunhão dos santos”: os cristãos na terra (Igreja militante), no céu (Igreja triunfante) e no purgatório (Igreja padecente) formam uma grande unidade. Nada nos pode separar. Uns cooperamos com os outros. O amor nos mantém unidos e “o amor jamais passará” (1Cor 13,8).

A morte e os que morreram no Senhor não nos inspiram medo. O autor da Carta aos Hebreus afirma: “Vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, o mediador da nova aliança e da aspersão com um sangue mais eloquente que o de Abel” (Hb 12,22-24). Deus seja louvado!

* Professor, licenciado em Filosofia.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: a Santíssima Trindade



Antigo ícone ortodoxo mostra os três anjos que visitaram Abraão (Gn 18ss),
representando a Santíssima Trindade


Um das maiores verdades de fé (chamadas também de “mistérios”) para os católicos e membros da maioria das denominações cristãs é a Santíssima Trindade, nome dado a Deus. Com base bíblica, esse é o principal dogma da Igreja Católica. Em outras palavras, a base da crença do fiel é a certeza da existência das três pessoas: o Pai (e Mãe, segundo o Papa João Paulo I), o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo (o espírito de Deus).

Em poucas palavras, a Santíssima Trindade é, para quase todas as denominações cristãs, a comunhão perfeita e indissolúvel entre as três pessoas que a formam. Um símbolo muito usado para ilustrar a Trindade é o de três chamas juntas, formando um só fogo. Mesmo vindas de três pavios diferentes, ao unirem-se, tornam-se uma só luz ao mesmo tempo em que iluminam individualmente.

Toda oração ou rito católico começa com o sinal da cruz, com o qual o fiel traça sua fronte ao mesmo tempo em que ele diz ser aquele ato feito em nome da Santíssima Trindade. Diz-se: “Em nome do Pai (coloca-se a mão sobre a testa), do Filho (sobre o peito) e do Espírito (a mão sobre o ombro esquerdo) Santo (sobre o ombro direito), amém”.

A essência da fé cristã e católica, portanto, está na crença na Santíssima Trindade. Em nome dela se batiza, e, assim, a pessoa passa a fazer parte da comunidade eclesial.

Saiba mais



- Veja o que diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica.

- No calendário litúrgico, há uma data especial para celebrar a Santíssima Trindade: o domingo seguinte ao de Pentecostes.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: o Juízo Final e a volta de Cristo

O Juízo Final (detalhe). Michelangelo (1475-1564). Capela Sistina, Vaticano

Entre os cristãos, existe a crença de que Cristo voltará, de forma gloriosa, para julgar os homens (vivos e mortos) pela última vez. Isso tem base no evangelho. Por meio de parábolas e muitas figuras de linguagem,  Jesus menciona esse acontecimento. Segundo a fé católica, nesse dia, haverá também a ressurreição de todos os falecidos, e os julgados “salvos” por Deus entrarão, em corpo e espírito, no Céu.

Quando e como, somente Deus sabe. Nem mesmo os anjos têm conhecimento desse “mistério”, segundo o próprio Cristo.

Esse tema é explicável apenas pelo olhar da fé. Se tiver oportunidade, converse com mais de um teólogo sobre esse assunto, inclusive de denominações cristãs diferentes.

Saiba mais


- Evangelho de São Mateus, capítulo 24

- Evangelho de São Marcos, capítulo 13

- Compêndio do Catecismo da Igreja (números 132 a 135)


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: a ressurreição de Jesus

Procissão de Páscoa,
Ouro Preto-MG
Três dias depois após a execução de Cristo na cruz, os apóstolos testemunham Jesus vivo, em carne e osso. Se você acha isso estranho, imagine para aqueles homens que viram “ao vivo” esse fenômeno. Evidentemente isso é uma “verdade de fé” (o mesmo que “mistério”), e a lógica puramente humana não cabe nesse caso.

Esse grande mistério é o centro da fé cristã. São Paulo, em sua primeira carta à comunidade cristã de Corinto (Grécia), diz enfaticamente que, se um fiel não acredita nisso, ele está perdendo tempo:

Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vocês dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm. Se os mortos não ressuscitam, então somos testemunhas falsas de Deus, pois estamos testemunhando contra Deus, ao dizermos que Deus ressuscitou a Cristo. Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória, e vocês ainda estão nos seus pecados. E, desse modo, aqueles que morreram em Cristo estão perdidos. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. De fato, já que a morte veio através de um homem [aqui, São Paulo se refere a Adão], também por um homem vem a ressurreição dos mortos (1ª Carta aos Coríntios, capítulo 15, versículos 12 a 21).

A ressurreição no dia a dia


A valorização da vida é fundamental na fé cristã. Assim, o fiel não defende atos que promovam a morte, seja ela física ou espiritual. Por isso a firmeza da Igreja em sua posição contra o aborto, a eutanásia, as drogas, a destruição da dignidade da pessoa e o extermínio da natureza, por exemplo.

Ressuscitar não é simplesmente um ato de voltar a viver. Esse é outro ensinamento para o cristão. O ocorrido com Jesus é uma mensagem dizendo que sempre há tempo para uma vida nova, para recomeçar, ressuscitar. Pela fé cristã, se alguém tem uma vida, digamos, desregrada, essa pessoa pode começar agora, neste minuto, uma história diferente, baseada no bem. É o que se pode chamar de conversão (não necessariamente a uma igreja específica) e, mais profundamente, de ressurreição.

A verdadeira morte


Você pode estar se perguntando sobre o que é a morte no olhar cristão. Vejamos: uma pessoa, para estar morta, não necessariamente precisa descer ao túmulo. Há vários vivos mortos, ou seja, estão vivos fisicamente, mas com o espírito escravizado pelas várias formas de egoísmo, pela falta de amor a si e ao outro, e até pela falta de consciência do próprio corpo, de viver plenamente as alegrias e dores do dia a dia. Mais do que tentar dar esclarecimentos, é bom fazer-nos uma pergunta: uma vida no mal já não seria o início da condenação eterna, da morte em si? Precisa ainda haver inferno?

A vida além-túmulo


Segundo a doutrina cristã, incontestavelmente, há vida após a morte. Por isso, quando um católico conversa com um santo, um parente já falecido, ele não está invocando os mortos, como pensam alguns, mas falando a uma pessoa considerada viva, que ressuscitou e está na eternidade.

Os católicos acreditam que, após sua morte física, ressuscitarão em espírito, para, depois, no Juízo Final, no chamado “último dia”, ressuscitar também em carne, como aconteceu com Cristo (e, conforme ensina a Igreja, foi antecipado a Maria, a mãe de Jesus).

O cristianismo e a reencarnação


A reencarnação não é aceita pela maioria das denominações cristãs. Um dos argumentos, entre tantos, é que Jesus Cristo venceu a morte para resgatar da morte física e espiritual, e de uma vez por todas, a humanidade. O cristão que aceita a ideia da reencarnação admite estar incompleta a salvação de Cristo, algo considerado uma contradição diante da própria fé.

Com base nesse conceito, quando um cristão morre, não é adequado dizer que o finado “desencarnou”. Esse termo é mais adequado a um adepto do espiritismo ou de outras religiões que pregam a reencarnação. Como já foi dito antes, praticamente todos os cristãos acreditam na ressurreição.

Rua de Ouro Preto-MG enfeitada para a
procissão do Domingo da Ressurreição

Domingo: o Dia do Senhor


A ressurreição de Jesus Cristo é tão importante para a crença católica que a principal festa da Igreja é a Páscoa, quando se celebra esse mistério. Toda a liturgia lembra a alegria, tanto na decoração dos altares quanto na animação do espírito de um fiel que tem alguma noção do significado dessa data.
A Páscoa de Cristo é comemorada a toda hora. O domingo, no entanto, é um dia privilegiado para essa celebração. Assim, para os católicos e fiéis de muitas outras igrejas cristãs, o domingo é o dia sagrado (o Dia do Senhor), o dia em que Jesus voltou à vida, segundo os evangelhos.

A liturgia dominical católica começa na tarde do sábado e vai até o fim do domingo. Essa configuração se baseia na forma como os judeus contavam as horas do dia, começando pelo entardecer da véspera e terminando no entardecer seguinte.

Procissão de Páscoa,
Ouro Preto-MG

Saiba mais



- Para aprofundar mais sobre o tema da ressurreição de Cristo, nada melhor do que consultar os próprios evangelhos, a principal fonte da fé cristã. Eis as indicações:
Evangelho de São Mateus, capítulo 28, versículos 1 a 8;
Evangelho de São Marcos, capítulo 16, versículos 1 a 9;
Evangelho de São Lucas, capítulo 24, versículos 1 a 12; e
Evangelho de São João, todo o capítulo 20.

- Compêndio do Catecismo da Igreja (números 112 a 131)




sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Nossa Senhora Aparecida: conheça a história da padroeira do Brasil

Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida
encontrada no Rio Paraíba do Sul, em Aparecida-SP
 

Os católicos, de uma forma geral, têm muito carinho pela Mãe de Jesus (chamada de “Nossa Senhora” pelos devotos). É impossível falar de fatos religiosos no Brasil sem mencionar a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a padroeira do País.

Basta uma visita ao Santuário Nacional, na cidade paulista de Aparecida (erradamente chamada de Aparecida do Norte), no vale do rio Paraíba, para se ter um verdadeiro resumo da cultura nacional. De turistas curiosos a peregrinos em oração fervorosa, de autoridades a pessoas simples, todos parecem como que atraídos a uma das demonstrações mais genuínas de fé do povo brasileiro.

A história dessa devoção é muito rica, tanto em documentos quanto em doces contos populares. Tentarei dar aqui a versão considerada oficial. O relato aqui é baseado nos escritos de Pe. José Alves Vilela, vigário da vila de Guaratinguetá-SP entre os anos de 1725 a 1745, e publicados no livro “Um santo para cada dia”, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini (Editora Paulus).

O começo

Na segunda quinzena de outubro do ano de 1717, o governador de Minas e São Paulo, Dom Pedro de Almeida (chamado de Conde d’Assumar), em viagem a Minas Gerais, passaria pela Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá (atual Guaratinguetá).

Para prover os banquetes em homenagem ao conde, a Câmara convocou os pescadores da região para que conseguissem o máximo possível de peixes para o ilustre visitante. Entre os muitos convocados, estavam Domingos Garcia e João Alves Garcia (pai e filho), e Filipe Pedroso (cunhado de Domingos). Depois de uma noite inteira de trabalho, percorrendo grande distância do rio Paraíba do Sul, nada havia sido pescado.

Na altura do Porto de Itaguaçu, já nas últimas esperanças de se conseguir algo, João Alves lançou a rede. Ao puxá-la para a canoa, viram no meio da malha uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, moldada em barro, sem a cabeça. Depois de guardar a peça com cuidado, mais adiante lançaram a rede novamente. Puxaram uma bola de barro. Era a cabeça da imagem. Estava completa a pequena escultura enegrecida pela lama do rio Paraíba.

Porto de Itaguaçu, local onde foi
encontrada a imagem de
Nossa Senhora Aparecida
João Alves novamente lançou a rede. Para espanto de todos, a malha se tornou pesada a ponto de arrastar o barco. Com dificuldade, os três trabalhadores conseguiram tirá-la do rio, desta vez, repleta de peixes. O sucesso da pescaria foi tanto que os homens, receosos de sofrerem um acidente, tiveram que jogar no rio os objetos pessoais.


A devoção

Após o encontro, a pequena imagem negra foi consertada com cera e levada para a casa de Felipe Pedroso, que construiu para ela um oratório de madeira. Assim começou a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Depois de algum tempo, foram construídas capelas no local do primeiro retábulo. Em 24 de junho de 1888, foi bento solenemente o templo que hoje é chamado de “Basílica Velha”.

Basílica Velha
No dia 8 de setembro de 1904 (Festa da Natividade de Nossa Senhora), a pequena imagem recebeu uma coroa doada pela Princesa Isabel. Em 1929, no encerramento do Congresso Mariano, Maria foi aclamada como rainha do Brasil e passou a ser oficialmente chamada de Nossa Senhora Aparecida. Em 31 de maio de 1931, na cidade do Rio de Janeiro (capital da República na época), diante de várias autoridades, inclusive do presidente Getúlio Vargas, leu-se o decreto do Papa Pio XI, proclamando oficialmente a Mãe de Jesus como rainha e padroeira do Brasil.

Em 1967, o Papa Paulo VI enviou ao santuário de Aparecida a “Rosa de Ouro”, um símbolo do respeito do Pontífice para com pessoas e locais que ajudam a dar dignidade à Igreja. Esse presente do Papa encontra-se hoje no museu, na torre da gigantesca basílica, chamada de “Basílica Nova”.

No dia 14 de julho de 1980, em sua primeira visita ao Brasil, o Papa João Paulo II consagrou a “Basílica Nova”. O maior templo do mundo dedicado à Virgem Maria e um dos maiores da Igreja, com cerca de 23 mil metros quadrados de área construída e com capacidade para cerca de 47 mil pessoas.

Alguns milagres

Vista noturna da Basílica Nova
Quem visita a Sala dos Milagres, no subsolo da Basílica Nova, fica impressionado com os objetos deixados por devotos do Brasil e do mundo, lembrando alguma graça alcançada pela intercessão de Maria. Além da própria pesca milagrosa, na ocasião do encontro da imagem, alguns fatos tornaram-se célebres. Conheça alguns:

O milagre das velas – O pescador Filipe Pedroso, depois de conservar a imagem de Nossa Senhora em sua casa, doou a pequena escultura ao filho, Atanásio Pedroso. Este também construiu um retábulo, ao redor do qual, todos os sábados, o povo das proximidades juntava-se para rezar o terço. Certa vez, mesmo com a noite serena, as duas velas colocadas no altar se apagaram. Antes que uma senhora, de nome Silvana da Rocha, acendesse as velas, estas recobraram o fogo simultaneamente. Segundo Pe. José Alves Vilela, esse foi o primeiro milagre (citado no livro “Um santo para cada dia”, de Mário Sgarbossa e Luigi Giovannini, Ed. Paulus, p. 326).

O escravo liberto – Um dos mais comoventes milagres registrados em Aparecida deu-se com o escravo Zacarias. O pobre cativo fugira de uma fazenda no Paraná, mas foi capturado na região do Vale do Paraíba. Ao passarem perto da pequena capela de Nossa Senhora Aparecida, o homem, preso por correntes e argolas, pediu para rezar diante da pequena efígie da Virgem Maria. A fé de Zacarias foi tanta que as argolas e a corrente arrebentaram e caíram aos seus pés. Por esse milagre, o escravo ganhou a liberdade e, segundo a tradição, tornou-se um dos devotos da Senhora Aparecida. O museu anexo à Basílica Nova conserva, como prova do fato, as correntes quebradas.

Barrado na porta do templo – Enquanto os anos se passavam, aumentava também o número de romeiros que se dirigiam ao santuário de Nossa Senhora Aparecida. Também crescia a desconfiança e o ódio de alguns poderosos que desprezavam o povo. Certa vez, um senhor que cultivava profunda repugnância pela fé e pela Igreja saiu de Cuiabá e dirigiu-se ao santuário de Aparecida. Sua intenção era a de entrar a cavalo no templo e quebrar a pequena imagem. Mas as patas do animal ficaram presas na rudez da pedra da escadaria da igreja. Conta-se que, desse dia em diante, o senhor converteu-se e passou a ser um fiel seguidor de Cristo e devoto de Maria. Esse fato é testemunhado pela própria pedra, conservada também no museu na torre da Basílica Nacional. Na rocha, pode-se ver o contorno de uma das ferraduras.

Visão recuperada – Dona Gertrudes Vaz vivia com sua filha em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Um parente, de nome Malaquias, tinha o costume de peregrinar a Aparecida e voltava contando casos de milagres que se viam naquele santuário. Depois da insistência da menina, que era cega de nascença, as duas resolveram empreender uma peregrinação até a igreja dedicada a Nossa Senhora. À custa de esmolas e de semanas de viagem, conseguiram chegar ao destino. Ainda na entrada da cidade, a menina perguntou com simplicidade se a igreja que estava avistando no alto do monte era a de Nossa Senhora Aparecida. Com espanto, a mãe indagou à filha o que havia acontecido, e a menina disse que uma luz repentina clareou a vista. Segundo os registros, esse caso aconteceu no ano de 1874.

É uma pena não se poder mais ver de longe a antiga basílica. Por ganância de alguns, falta de senso histórico e artístico de outros, além da incompetência de muitos, o templo antigo foi cercado por prédios de pouquíssimo valor arquitetônico, encobrindo também um pouco da história do Brasil.

Saiba mais

Papa Francisco em visita ao Santuário Nacional (24 de julho de 2013)

- Interessante notar que o “apelido” Aparecida dado a Nossa Senhora tem origem na crença de que ela havia aparecido nas redes e não sido pescada.

- Pescas milagrosas, passagens riquíssimas de simbolismo, também são relatadas nos evangelhos. Veja em São Lucas, capítulo 5, versículos 1 a 11, e São João, capítulo 21, versículo 6 a 11.

- Para saber mais sobre a devoção a Nossa Senhora Aparecida, uma opção é o portal de Aparecida. Nele é possível saber mais sobre a devoção, curiosidades, fotos e muito mais. O endereço é www.a12.com.

- Sempre é bom esclarecer que a devoção não é à imagem da Padroeira do Brasil, mas à própria Virgem Maria. A imagem é tratada com o devido respeito porque, segundo a fé católica, foi por ela que Deus quis dar um recado à humanidade, em particular aos brasileiros. Quando um cristão, inclusive o católico, adora imagens ou outros símbolos, ele comete uma aberração.

- Para a Igreja, Maria e os santos intercedem por nós, são solidários com nossas causas. Quem opera milagres é somente Jesus.

- Veja a homilia do Papa Francisco, pronunciada na visita que ele fez ao Santuário Nacional, em julho de 2013.



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Em que os católicos acreditam: Jesus é o filho de Deus

Cristo no Horto das Oliveiras. Aleijadinho (1738?-1814).
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas-MG

É fundamental que o cristão acredite Jesus Cristo ser, ao mesmo tempo, Deus e filho de Deus (veja sobre a Santíssima Trindade). Jesus sempre teve o cuidado de chamar Deus-Pai de “Abba”, ou seja, “Papai”, e pediu que fizéssemos o mesmo. Uma frase que poderia resumir quem é Jesus para os católicos (e cristãos, no geral) é: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim" (Evangelho de João, capítulo 14, versículo 6).

Saiba mais


- Compêndio do Catecismo da Igreja



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os sacramentos: quem preside o rito do batismo

De forma geral, todo cristão que recebeu o sacramento da ordem (bispos, padres e diáconos, estes últimos na Igreja Latina) pode batizar. Em caso de necessidade, os ministros extraordinários (nomeados por uma autoridade eclesiástica) também podem fazê-lo. Em situações extremas (partos arriscados ou risco de morte, por exemplo), qualquer pessoa batizada pode conduzir esse sacramento. Deve-se derramar água na cabeça da pessoa e dizer: “[Nome], eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. É preciso procurar o pároco logo em seguida e comunicar o fato.

Saiba mais


- Conheça os sacramentos da Igreja Católica

- Batismo, mergulho em uma nova vida

- BORTOLINI, José. Os sacramentos em sua vida. 15. ed. São Paulo: Paulus, 1991.

- Catecismo da Igreja Católica (número 1256)

- Código de Direito Canônico (cânones 861 a 863)

- Compêndio do Catecismo (número 260)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os sacramentos: batismo, mergulho em uma nova vida

Batismo de Jesus. Detalhe de forro da
Matriz de Santo Antônio, Santa Bárbara-MG
A palavra batismo significa “imersão”. Simbolicamente é como se uma pessoa, ao ser batizada, “lavasse a alma”, ou seja, saísse novamente das águas para uma nova vida. O catecúmeno, nome dado a quem receberá esse sacramento, é “sepultado” nas águas e ressuscita como alguém novo.

Esse é o primeiro dos três sacramentos de iniciação cristã (os outros são a confirmação e a Eucaristia). Embora todos muito importantes para os católicos, esse sinal tem um caráter peculiar. É um jeito de a pessoa assumir que pertence ao grupo de filhos de Deus e quer fazer parte da comunidade cristã.

No caso de batismo de recém-nascidos, os pais e padrinhos assumem, em nome das crianças, o compromisso de pertencer à comunidade cristã. Isso tem um significado especial. É como se os pais dissessem “Se ser cristão é bom para nós, então queremos o mesmo para nosso filho”. Na adolescência, com o sacramento da confirmação (ou crisma), os jovens têm uma nova oportunidade de assumir com mais clareza a vida cristã, mas não se deve achar que a crisma é um aperfeiçoamento do batismo.

Mesmo sendo o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo também foi batizado por São João Batista (observe a relação entre o apelido e a “profissão” de João). Isso foi uma forma encontrada por Jesus para mostrar que veio realmente para estar no meio de nós, seguindo os nossos costumes (os bons, é claro).

Saiba mais


- Conheça os sacramentos da Igreja Católica

- BORTOLINI, José. Os sacramentos em sua vida. 15. ed. São Paulo: Paulus, 1991.

- Catecismo da Igreja Católica (números 1213 a 1284)

- Código de Direito Canônico (cânones 849 a 878)

- Compêndio do Catecismo (números 252 a 264)

- Leia sobre o batismo de Jesus:

Evangelho de São Mateus, capítulo 3, versículos de 13 a 17;
Evangelho de São Marcos, capítulo 1, versículos 9 a 11;
Evangelho de São Lucas, capítulo 3, versículos 21 e 22.




Conheça os sacramentos da Igreja Católica

Santa Ceia. Mestre Athayde (1828).
Colégio do Caraça, Minas Gerais
Para a Igreja, os sacramentos são os sinais claros e palpáveis do amor de Deus para com os homens. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, eles foram instituídos por Cristo e confiados à igreja.

É bom lembrar que sinal não é o mesmo que símbolo. Símbolo traz em si uma ideia. Por exemplo, quando os namorados trocam presentes, isso simboliza o amor entre eles. O sinal, por sua vez, é, em si, o que ele manifesta. Por serem sinais, a fé católica acredita que os sacramentos não simbolizam a presença ou a bondade de Deus, mas já as trazem consigo. Um exemplo é a Eucaristia. Para os católicos, o pão ázimo, depois de consagrado na missa, não representa Jesus, mas é Ele próprio.

Na Igreja Católica, os sacramentos são sete:

Sacramentos da iniciação cristã
- Batismo
- Confirmação (ou crisma)
- Eucaristia

Sacramentos ao serviço da comunhão e missão
- Ordem
- Matrimônio

Sacramentos da cura

- Penitência (ou reconciliação)
- Unção dos enfermos (erradamente chamado de “extrema-unção”)

Saiba mais


- BORTOLINI, José. Os sacramentos em sua vida. 15. ed. São Paulo: Paulus, 1991.

- Compêndio do Catecismo (números 250 a 350)

- No blogue "A Igreja quase sem mistério", veremos com mais detalhes cada um dos sete sacramentos.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Em que os católicos acreditam: Deus, o criador de tudo

A criação de Adão. Michelangelo (1475-1564). Capela Sistina, Vaticano

O cristão acredita que Deus é o criador das coisas visíveis e invisíveis. A Bíblia apresenta essa atitude divina no mito da criação, no Livro de Gênesis (do capítulo 1º ao capítulo 2º, versículo 5). É necessário, no entanto, refletir sobre um ponto.

Evolução ou criação?


Parece estranho, mas ainda neste Terceiro Milênio, há quem acredite que a criação do mundo foi exatamente como está narrado no início do livro do Gênesis (o primeiro da Bíblia). Isso provoca um debate entre os que leem a Bíblia ao pé da letra e os que defendem descobertas científicas e outras interpretações a respeito do surgimento da vida.

Antes de qualquer coisa, é oportuno esclarecer que não deveria haver incompatibilidade entre acreditar em um Deus Criador e, ao mesmo tempo, saber que a vida surgiu de uma série de fatores naturais que geraram a primeira célula. Um pensamento não anula o outro.

Há, no entanto, fortíssimos movimentos, sobretudo nos Estados Unidos, que pregam que a explicação bíblica da criação é a verdadeira e única tese para o surgimento da vida. Grupos extremamente conservadores (“fundamentalistas” seria a melhor denominação) chegam mesmo a proibir o ensino das descobertas científicas sobre a evolução das espécies.

O mito bíblico da criação do mundo, na verdade, tem uma finalidade teológica, ou seja, é uma explicação espiritual. Não é um tratado científico ou histórico. Está implícita uma verdade de fé, que diz que Deus é o Pai de toda criação e que Ele a abençoa porque tudo o que criou é bom, e que ele conta com o ser humano para continuar e cuidar da criação, conforme está escrito no primeiro capítulo do livro do Gênesis.

No caso da criação do homem, a passagem bíblica (com um texto sublime, diga-se) conta que Deus criou Adão (substantivo comum que significa “aquele que vem da terra”) e Eva (também um substantivo comum: “aquela que dá a vida”). Adão foi moldado da argila, e Eva, da costela do “primeiro homem”. Não há necessariamente referência a um casal, mas ao gênero humano como um todo. Portanto não se deve achar que deles é que surgiram todas as pessoas. Paulo Bazaglia (veja referência a seguir) diz que a crença na narrativa da criação como fato histórico é o mesmo que esperar Papai Noel ou acreditar que a cegonha é quem traz crianças ao mundo.

Fica aqui o alerta: ler a Bíblia ao pé da letra é uma grande armadilha. No mínimo, leva ao fundamentalismo e pode acabar em contradição, pois, em nome de uma fé cega, acaba por ofuscar a contemplação da grandiosidade da obra divina.

Saiba mais


- Compêndio do Catecismo da Igreja

- Vale a pena conhecer o livro de Gênesis (o primeiro da Bíblia). O belo texto da criação é muito famoso (Gn 1-2,5).

- BAZAGLIA, Paulo. Primeiros passos com a Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.



domingo, 15 de setembro de 2013

A Bíblia: quem a escreveu e quando

Versão de 1590 da Vulgata
A Bíblia foi escrita aos poucos, por diversas pessoas, geralmente registrando tradições orais. Pode-se dizer que o autor do Livro Sagrado é o próprio povo. Uma comunidade que viveu e transmitiu as experiências de relação com Deus, com base em fatos do cotidiano.

Alguns estudiosos acreditam que a Bíblia começou a ser elaborada a partir do século IX antes de Cristo e foi concluída no final do século I. É interessante observar que a disposição de muitos livros bíblicos não é necessariamente ordenada cronologicamente. Alguns, como os proféticos, por exemplo, são dispostos de acordo com a extensão do texto.

Os idiomas originais


Os textos bíblicos originais foram escritos em hebraico, aramaico e grego. A maior parte do Primeiro Testamento (conhecido também como Antigo Testamento) foi redigida em hebraico, língua oficial do povo israelita. Alguns livros do Primeiro e todo o Segundo Testamento (chamado também de Novo Testamento) foram registrados em grego. Trechos dos livros de Esdras e Daniel foram grafados em aramaico.

Por volta do século III a.C., o texto judaico foi todo traduzido para o grego. O objetivo era atender principalmente aos vários judeus espalhados pelo mundo conhecido da época e que só falavam a língua helênica. Uma antiga história conta que esse trabalho de tradução foi feito por 70 sábios, por isso ele é conhecido como Versão dos Setenta.

A partir do século II d.C., os seguidores de Jesus começaram a passar o texto sagrado para o latim, a chamada “Vetus latina” (a antiga tradução do latim). Essa versão não é unânime entre os estudiosos, pois foram encontradas quase 30 variações do texto. Muitos dizem que esse formato surgiu apenas para suprir a falta do texto sagrado em determinadas comunidades.

Mais tarde, no século IV, São Jerônimo fez uma nova tradução para o latim, mas, desta vez, partiu do texto em língua hebraica para o Primeiro Testamento e o de uma versão da “Vetus latina” para o Segundo Testamento. Esse trabalho ganhou o nome de “Vulgata”. Ainda nos primeiros séculos do cristianismo, a Bíblia ganhou versões para outros idiomas também importantes na época, como o siríaco, árabe, etíope, copta e armênio. Hoje é considerado o “livro” (na verdade, uma coletânea de livros) mais vendido e traduzido em todo o mundo.

Patrono dos tradutores

São Jerônimo. Caravaggio (1573-1610)

São Jerônimo é o padroeiro dos tradutores. Conta-se que o santo tinha um temperamento difícil e uma palavra feroz, mas era muito dedicado à meditação, estudo e tradução das Escrituras. Foi graças a ele que o mundo ocidental pôde apreciar melhor a Bíblia. A Igreja comemora São Jerônimo no dia 30 de setembro, fechando justamente o mês dedicado ao Livro Sagrado.

O trabalho de tradução da Bíblia para as línguas modernas é muito minucioso, pois cada idioma carrega em si traços culturais bem típicos do povo que o fala. No caso da cultura hebraica, muito antiga e diferente da nossa, alguns termos precisam ser bem entendidos para que a mensagem não fique deturpada, levando ao fundamentalismo. É preciso sempre pesquisar em fontes seguras para saber o que realmente as passagens querem transmitir.

Saiba mais


- Compêndio do Catecismo

- BAZAGLIA, Paulo. Primeiros passos com a Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Surpreenda-se: o que dizem os números na Bíblia

"Fui ao concerto e havia 'meia dúzia' de pessoas." Assim nós nos expressamos em português para indicar que poucos (e não necessariamente seis) assistiram à apresentação. Como em nossa cultura, na Bíblia, muitos numerais têm significados curiosos. No texto sagrado, nem sempre os números (e seus múltiplos) se traduzem em quantidades. Vejamos o que significam alguns deles:

2 - Algo em dobro ou de sobra.

3 - Ênfase.

4 - Totalidade.

7 - Perfeição, grande quantidade, término de uma série.

10 - Grande quantidade, arredondamento de números, números completos.

12 - Resultado da multiplicação de 3 e 4. Significa que é um número mais do que completo.

40 - Grande quantidade ou tempo necessário para executar uma tarefa.

666 - Se o número 7 significa perfeição, o número 6 não pode ser considerado perfeito. O número 3 indica ênfase, por isso, o 6 grafado três vezes indica que uma coisa é enfaticamente imperfeita. É o caso, por exemplo, da “Besta do Apocalipse” (Apocalipse, capítulo 13, versículo 18), que a maioria dos teólogos dizem referir-se a Nero, perseguidor dos cristãos.

Saiba mais


- Conheça outros símbolos e expressões da Bíblia.

- BAZAGLIA, Paulo. Primeiros passos com a Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.

- Cebi (Centro de Estudos Bíblicos)

- GRUEN, Wolfgang. Pequeno vocabulário da Bíblia. 12. ed. São Paulo: Paulus, 2000.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Artigo: "Setembro, Mês da Bíblia"


Wiliam Gonçalves*

Setembro foi escolhido como o Mês da Bíblia porque, no dia 30, a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo, o padroeiro dos estudos bíblicos. Esse presbítero e doutor da Igreja nasceu aproximadamente no ano 350 e morreu em 420. Deixou uma grande obra, constituída principalmente de comentários à Sagrada Escritura. Mas sua principal produção literária foi a tradução latina da Bíblia, chamada Vulgata, que se tornou o texto oficial da Igreja Católica. Curioso é que a palavra “vulgata” é da mesma raiz do verbo que, em latim, significa “divulgar, espalhar, fazer comum”. São Jerônimo desejava que a Bíblia fosse do “vulgo”, da classe popular da sociedade.

Os católicos cremos que a Bíblia é o registro escrito da palavra de Deus dirigida aos homens. Ela é, por antonomásia, a Sagrada Escritura. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, em sua questão 18, ensina que “o Espírito Santo inspirou os autores humanos, que escreveram o que ele quis nos ensinar. A fé cristã, todavia, não é uma religião do Livro, mas da Palavra de Deus, que não é uma palavra escrita e muda, mas o Verbo encarnado e vivo”.

Sendo um livro religioso, não procuramos na Sagrada Escritura certezas que não sejam religiosas. Se tentássemos harmonizar os primeiros capítulos do Gênesis com o que se sabe da Pré-história da humanidade ou entender ao pé da letra como pôde o Sol parar a mando de Josué (Js 10,12-14), estaríamos envolvidos por insolúveis e absurdos problemas. Isso porque a Bíblia foi escrita para instrução e edificação da fé, não para servir de manual de ciências naturais.

Importantíssimo para uma boa leitura da Bíblia é descobrir a real intenção dos seus autores e os variados gêneros literários em que ela foi escrita. Tomar qualquer texto bíblico em sentido diferente do que lhe quis dar o escritor sagrado é sempre incorrer em erro e chegar a conclusões indevidas. A veracidade de cada passagem da Bíblia se depreende do seu respectivo gênero literário. Ater-se a estas coisas pode parecer difícil, mas não é. Basta que se leia a Bíblia como a Igreja quer que seja lida: em comunidade. Leituras individuais e solitárias da Escritura serão sempre um perigo. A mensagem de Deus é para seu povo, e é como povo, os pastores e as ovelhas, que a compreendemos devidamente.

Javé é o Deus que gosta de nos presentear. Na primeira página da Bíblia, diz-se que Ele plantou um jardim e ali pôs o homem que havia formado. Jardim cheio de flores, com certeza, era aquele. E setembro é o mês em que as flores desabrocham, e a Igreja nos vem falar da Sagrada Escritura, um jardim com 73 lindas flores. Tudo isso são outros presentes que Ele nos fez. Deus seja louvado!


* Professor, licenciado em Filosofia.


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Conheça o significado de algumas expressões da Bíblia

A Bíblia não deve ser lida ao pé da letra. Por ela ter sido escrita em um contexto histórico, geográfico e cultural diferente do nosso, há muitas marcas que podem fazer os textos soarem estranhos para nós. Há risco, inclusive, de uma mensagem ser totalmente deturpada, como acontece muitas vezes, por exemplo, com o Apocalipse, que tem uma riquíssima simbologia para encorajar os cristãos, mas acaba sendo entendido por muitos como um livro de catástrofes. Vejamos alguns símbolos e expressões da Bíblia:

Água: simboliza purificação, vida, fertilidade.

Alma:
“Minha alma” = eu; “sua alma” = você; e assim por diante.

Ancião: no Segundo Testamento, os chamados anciãos são os coordenadores das comunidades religiosas. A partir do grego, a palavra chegou até nós como “presbítero” (velho, idoso, mas também usada como título de respeito). Esse termo tem tom mais honroso do que propriamente uma indicação de idade.

Anjo: mensageiro, mas essa palavra também lembra o termo “Deus” ou “Criador”.

Apocalipse: palavra do grego que significa “revelação, manifestação, esclarecimento”. O estilo apocalíptico é cheio de símbolos, muito usado na cultura oriental para explicar algo que ninguém consegue esclarecer plenamente. Nos evangelhos, há algumas partes em que Jesus usa esse tipo de linguagem. Veja, por exemplo, o capítulo 24 do Evangelho de São Mateus.

Babilônia: muitas vezes, termo usado como símbolo do opressor, do inimigo.

Carne: o corpo humano ou dos animais. Também representa a fraqueza humana ou indica que alguém é parente.

Casa: morada, família, sociedade.

Céu: morada simbólica de Deus.

Chifre: símbolo de poder e força.

Cinzas: brevidade da vida, dor, luto e penitência.

Colheita: símbolo de alegria, do juízo divino, prestação de contas.

Coração: consciência, intenção, íntimo de uma pessoa.

Demônio: representa a inimizade com Deus. Por várias vezes, Jesus expulsa os demônios, simbolizando que Deus está no meio dos homens. Representa também doenças, impureza ou outros males.

Deserto: solidão, carestia. Pode também designar purificação, silêncio, lugar de reflexão e encontro com Deus.

Diácono: aquele que é servidor.

Discípulo: seguidor, aprendiz.

Espinho: símbolo da inutilidade, aquilo que não dá fruto.

Espírito: vento, hálito, sopro vital, brisa.

Face: intimidade, individualidade de cada pessoa.

Fenômenos da natureza: terremotos, tempestades, trovões, raios, ventanias são indicações bíblicas de que Deus se manifesta em alguma situação.

Fogo: simboliza a presença de Deus, castigo, purificação e amor.

Irmão: além do filho dos mesmos pais, indica parentes próximos (sobrinho, tio, cunhado, primo) ou membro de um mesmo grupo (colega ou conterrâneo, por exemplo).

Lâmpada: vigilância, presença de Deus. A “lâmpada que não se apaga” também representa uma descendência de muitos anos.

Lepra: qualquer doença de pele (curáveis ou não), mofo e mancha em uma superfície. Segundo o teólogo Wolfang Gruen, essa palavra deveria ser substituída nas traduções bíblicas por outras mais adequadas.

Óleo: representa força e santidade.

Pastor: líder político e religioso. Em Israel, no entanto, os pastores (camponeses) eram marginalizados pela sociedade. Como “ironia divina”, esses trabalhadores foram os primeiros homens a saberem do nascimento de Jesus (veja o capítulo 2 do Evangelho de Lucas). O Cristo também se autodenominou “o Bom Pastor” (Evangelho de João, capítulo 10, versículos 11 a 15).

Pedra: solidez, invencibilidade, firmeza.

Perfume: símbolo da alegria. Esse também é, até hoje, o sentido do incenso, que representa o doce aroma das orações que sobem a Deus.

Profeta:
pessoa que, corajosamente, denuncia as injustiças e anuncia a mensagem de Deus. Ainda hoje existem esses corajosos homens e mulheres. Todos os batizados, no entanto, são chamados a ser profetas.

Ressurreição:
recomeço, vida nova, uma nova chance. É um dos principais alicerces da fé cristã.

Rins: para a antiga cultura hebraica, é o lugar dos sentimentos profundos.

Sangue: símbolo da vida dada por Deus.

Satanás: o adversário, o que prova a fé do homem. É bom observar que o uso desse termo é principalmente simbólico.

Selo: símbolo de que algo pertence a alguém.

Testamento: o mesmo que pacto, acordo.

Vinho: na Bíblia, simboliza principalmente a alegria.

Saiba mais


- Quem desejar aprofundar-se nos símbolos bíblicos, é interessante pesquisar em livros especializados. Há dicionários e livros que tratam desse tema. Para consultas rápidas, recomendo o bem elaborado “Pequeno vocabulário da Bíblia”, do salesiano padre Wolfgang Gruen (Editora Paulus).

- A Igreja mantém em sua liturgia muitos símbolos e gestos semelhantes aos da Bíblia.

- Conheça o significado dos números na Bíblia.